segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ILIMAR FRANCO: O TAMANHO REAL DA OPOSIÇÃO

Muito se tem dito sobre o que a presidente Dilma precisa fazer para alavancar seu segundo mandato. Mas pouco se tem falado sobre o futuro da oposição. Por quase ter chegado lá, sua torcida está eufórica e alguns de seus quadros estão com o peito estufado.
Mas vamos aos fatos. O poder de fogo de um partido não deve ser medido só pela votação de seu candidato. Mas, sobretudo, deve ser dimensionado por sua capacidade de alavancagem. O número de eleitores que ele vai governar e para quem poderá oferecer sua ação política, econômica e administrativa. O desempenho do PSDB nos estados, ao lado dos erros do governo federal, será a principal fonte de luz da oposição.
O PSDB elegeu oito governadores, em 2010, e seu fiel escudeiro, o DEM, dois. A oposição governava 10 estados, incluindo São Paulo e Minas Gerais. Portanto, um contingente maior do que governará daqui por diante. Nestas eleições, o PSDB elegeu cinco governados e perdeu Minas Gerais, o segundo estado em eleitores do país.
Além disso, os tucanos governarão para menos brasileiros. Eles governavam para 67,8 milhões de eleitores. Agora vão governar para 51,2 milhões. Uma perda de 16,6 milhões. O partido manteve sua hegemonia em São Paulo e em estados limítrofes (Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás), além do Pará. O PSDB está se tornando um partido paulista?

Vamos ver a força que a oposição terá no Senado. A oposição elegeu nomes de peso, como José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). Na atual legislatura, o núcleo duro da oposição era de 19 senadores, mas em determinados temas ela conseguiu um apoio maior. Mas nunca como a eleita em 2006, quando a oposição acabou com a CPMF. Na próxima legislatura ela ficará do mesmo tamanho, o núcleo duro terá 18 senadores.

A situação não é diferente na Câmara. Nas eleições de 2010, a oposição elegeu 112 deputados, contando os três do PSOL. O PSDB fez 54 e o DEM 43. Nessa eleição, a oposição fez 107, contando 5 do PSOL. Na Legislatura passada, como nessa, o governo sempre terá defecções em sua base, notadamente no PMDB, conforme o assunto em debate. É por isso que os governos têm base ampla. Nem sempre ele pode contar com todos os seus.

Mas no cálculo da base do governo só um malabarismo poderia retirar da base da presidente Dilma os partidos que integraram a coligação que a reelegeu. (**) Há no Congresso mais de uma centena de deputados que se colocam no centro e apoiam qualquer governo. Essas forças devem apoiar a presidente Dilma como apoiariam Aécio Neves se ele fosse eleito.

A oposição poderá colocar em sua cota o PSB. O partido ficou do mesmo tamanho na Câmara (era 35 e será 33). No Senado, o partido cresceu sua bancada de três para sete senadores. Alguns desses apoiam o governo. Além disso, devemos perguntar que tipo de oposição esse partido fará? Será que ele adotará o discurso do PSDB? Há socialistas que defendem essa tese. Ou fará uma oposição moderada?
Os socialistas não tem mais um líder que os unifique. O PSB, como todos os partidos à esquerda no Brasil, são partidos de caudilhos. Miguel Arraes e Eduardo Campos no PSB. Leonel Brizola no PDT. Lula no PT. Os socialistas também terão de decidir se ficarão no campo da esquerda, mantendo o legado de Miguel Arraes, ou vão adotar outro rumo?
No entanto, devemos considerar ainda, a possibilidade desse partido se comprometer ou se associar ao projeto de Marina Silva. Sem o PSB, ela, e sua Rede, iriam para as eleições de 2018 com um tempo residual de TV e uma parcela diminuta do Fundo Partidário (aquelas sobrinhas que são divididos entre todos).
A oposição quase chegou lá e caixa de ressonância nunca lhe faltará para fazer barulho. Mas será que ela deve seguir na trilha do "já ganhou"? Ela chegará ao poder se não tiver um projeto para o Nordeste? Ela terá apoio no Amazonas sem ter uma proposta para a sobrevivência da Zona Franca de Manaus? Os pobres, a classe "C" vão confiar seu voto ao PSDB?

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(**) A aliança para governar entre um partido social-democrata, como o PT, e um partido de centro, como o PMDB, não é uma novidade na história política do país. No período que vai de 1945 a 1960, o Brasil foi governado tendo como base uma aliança entre o PSD, de centro, e o PTB, trabalhista. Foram 15 anos assim até que essa supremacia fosse interrompida por uma campanha que transformou Juscelino Kubitschek (PSD-MG) num corrupto. Isso viabilizou a eleição de um político de um pequeno partido (PTN), Jânio Quadros, que tinha como símbolo uma vassoura. Como se pode ver, 54 anos depois, não há nada de novo sob o sol tropical do nosso país.

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